quarta-feira, 28 de maio de 2008

O que é Banda Sinfônica

O que é Banda Sinfônica

Resumo
As bandas sinfônicas são orquestras formadas basicamente por instrumentos de sopros e percussão. Dos instrumentos de cordas conta apenas com contrabaixos, piano e, eventualmente harpa. Além dos sopros presentes numa orquestra "tradicional" conta com naipe de saxofones e eufônios. A quantidade dos instrumentos é também diferenciada; o naipe de clarinetas, por exemplo, tem em média 12 instrumentistas, além de requintas, clarinetas alto e clarinetas baixo. O naipe de flautas pode contar com oito instrumentistas. Há um grande destaque para o naipe de percussão que usa com freqüência todo o seu efetivo, com destaque para os teclados (glokenspiel, xilofone, vibrafone e marimba). São também conhecidas como orquestras de sopros, wind orchestras, symphonic bands ou concert bands. Apesar da história da música contar com grandes formações para sopros (por exemplo, a Música Aquática, de Haendel, foi escrita originalmente para uma orquestra de instrumentos de sopros) as bandas sinfônicas solidificam sua posição entre os grupos sinfônicos a partir da primeira metade do Séc. XX, quando grandes compositores como Hindemith, Holst, Villa-Lobos, Milhaud começam a escrever repertório específico para esta formação.

Brasil, o País das Bandas

O estado de São Paulo com seus 645 municípios possui aproximadamente 427 grupos formados por instrumentos de sopros e percussão entre fanfarras, bandas marciais, musicais, militares e sinfônicas, número este que cresce ano após ano.
No entanto, é comum a expressão de dúvida estampada no rosto de leigos, diletantes, programadores e até diretores culturais ao depararem-se com o título “Banda Sinfônica”. Alguns imaginam tratar-se de erro de grafia ou edição, afinal, estamos mais que habituados às orquestras sinfônicas. Outros perguntam-se: uma banda pode ser sinfônica?
É claro que sim! Mozart, em carta a seu pai, datada de 1778, imaginava como seria glorioso o efeito de uma orquestra formada por clarinetes, flautas e oboés. Suas três Serenatas para instrumentos de sopros, K. 361, K. 375 e K. 388 podem ser consideradas as raízes do repertório para bandas sinfônicas. Mais tarde, a Revolução Francesa, com seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, apresenta sua contribuição: os naipes de clarinetas e flautas são ampliados melhorando a proporção entre madeiras e metais. Estes instrumentos, já populares à época, simbolizavam a presença do povo nas manifestações artísticas. Ainda na França, em 1869, Saint Saëns, autor de obras originais para banda, introduz os saxofones à formação. Finalmente, nas primeiras décadas do século XX, quando compositores como Holst, Villa-Lobos, Prokofiev, Schoenberg, Hindemith e Milhaud, escrevem obras originais para orquestras de sopros, ocorre a consolidação definitiva desta formação como meio de expressão da música sinfônica com qualidade e excelência.

Segundo o Aurélio, banda é um “conjunto de músicos (...) formado por instrumentos de sopro e percussão” e sinfônica, uma formação com grande número de instrumentistas “destinada a sinfonias, a peças para diversos instrumentos.” Juntando a estas definições um naipe de contrabaixos, piano, harpa e ampliando generosamente a percussão, teremos uma idéia do que seja uma banda sinfônica ou orquestra de sopros. Apesar da ausência das cordas – substituídas funcionalmente pelas clarinetas, flautas e saxofones – as bandas sinfônicas podem produzir desde os sons delicados e sutis de um grupo de câmara, até sonoridades mais amplas que as orquestras tradicionais, passando pela agilidade e brilho de uma jazz-band. Tamanha versatilidade é refletida em seu repertório – resultado da produção musical do século XX – podendo ser épico, glorioso, introspectivo, moderno, alegre, popular, até marcial – por conta de sua origem –, mas profundamente musical, requintado e expressivo. Tais elementos associados ao tratamento sinfônico possibilitam imediata simbiose até para o ouvinte leigo. Por isso, o fenômeno do surgimento de bandas sinfônicas cresce vertiginosamente em todo o mundo. Segundo dados da WASBE (World Association for Symphonic Bands and Ensembles), os Estados Unidos possuíam, no início do século XX, apenas bandas ligadas às forças armadas e algumas bandas comunitárias. Atualmente a totalidade das primeiras e boa parte das segundas foram transformadas em bandas sinfônicas. As escolas - que utilizam as bandas na formação musical de seus alunos - desde as equivalentes ao nosso ensino fundamental até as universidades, possuem, pelo menos, duas bandas em atividade, sendo algumas de nível profissional. Na Espanha há mais de 500 bandas sinfônicas; só na província de Valência, são 30 grupos profissionais de altíssimo nível. Todo este crescimento – que envolve profissionais da educação, músicos e professores; a fabricação e comércio de instrumentos musicais e acessórios; composição, edição e comércio de obras e métodos; CDs, vídeos e DVDs; encontros, congressos e conferências – movimenta anualmente cifras em torno de milhões de dólares.

No Brasil, o estado de São Paulo lidera o movimento em quantidade e qualidade: conta com aproximadamente 15 grupos, cujo grande destaque é a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo. Com 14 anos de existência, uma vitoriosa turnê à Europa, em 1997, e inúmeros convites para participação em eventos internacionais, a BSESP firmou-se como ícone latino-americano, considerado pela WASBE um dos mais importantes organismos do gênero na atualidade. Tornou-se também referência de qualidade musical e fonte de estímulo para o crescimento do número de grupos em todo o país – ao final dos anos 80, o estado de São Paulo possuía, apenas 4 grupos. Tal crescimento nas proporções, em que vem ocorrendo, fará o Brasil ser conhecido em alguns anos como o país das bandas sinfônicas.

Artigo publicado na Revista Concerto – janeiro 2004

Sérgio Wontroba
Clarinetista
Coordenador de Comunicação
Banda Sinfônica do
Estado de São Paulo

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