Allen Vizzutti - Divulgação |
Na
fileira à minha frente, na segunda poltrona da esquerda, o gigante Fernando
Dissenha, trompete solo da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
No
palco, um dos maiores trompetistas da atualidade, o norte-americano Allen
Vizzutti. Consagrado mundialmente, o artista já deu shows em mais de 60 países, e tocou em mais de 150 trilhas de filmes campeões de bilheteria como De Volta para o Futuro, Rocky II, Poltergeist II, Star Trek, etc.
A
terceira noite da segunda edição do Jazz Trumpet Festival começou com uma bela
homenagem a Dorival Auriani, o Buda, que no último dia 15 de janeiro completou
85 anos de idade. Comovido, o veterano trompetista que começou a tocar aos 7
anos, agradeceu em lágrimas a reverência.
“Logo
que pensamos em criar esse festival em 2013, eu recorri ao maestro Edison
Ferreira, coordenador musical da Faculdade Cantareira, e ele prontamente me
atendeu”, conta Marcos Braga, um dos organizadores do evento. “Conheci o
maestro Edison quando eu ainda era adolescente, e trabalhava como vendedor em
uma loja de instrumentos onde ele era freguês. Durante um ano e meio freqüentei
a Associação Músicos do Futuro, criada por ele em Taboão da Serra”, relembra
Braga.
A
Faculdade Cantareira, por intermédio de Edison Ferreira, cede suas instalações
para os quatro dias e quatro noites de masterclasses
e concertos com os maiores trompetistas do gênero popular no Brasil e no mundo.
No Jazz Trumpet do ano passado o convidado de honra foi o japonês Eric Miyashiro.
Nesta edição 2014 o festival deu um bom passo à frente com a conquista do
patrocínio da Yamaha Musical.
As marcas
Weril e Adams montaram showroom na duração do festival que se encerra na noite
desta quinta-feira. Enquanto músicos se desmanchavam de prazer no test drive do
trompete de última geração da Adams, o empresário Leonardo contava passagens
deliciosas de suas viagens pela Europa, inclusive sobre o dia e lugar onde
resolveu batizar sua empresa com o nome Philharmonie.
Antes de
subirmos para o auditório, na cantina lotada da faculdade o diretor de
marketing Roberto Pinto contou à reportagem que entre as 109 escolas superiores
de música autorizadas no Brasil, a Cantareira está no ranking das melhores.
Feitiço de band leader
Assistir
a uma apresentação de Allen Vizzutti encanta os ouvidos e fascina os olhos.
Dentro de sua camisa amarela Vizzutti extrai do trompete um pouco mais do que o
instrumento pode render. Se entrega a cada música com o empenho de um
trabalhador braçal. Meneia o corpo, marca o compasso com as mãos quando está livre
do bocal, e chega mesmo a dar um ou outro breve grito quando o saxofonista da
Speakin’Jazz, que o acompanha, dá estocadas no ar com notas ácidas.
Desafia
os colegas de palco para virem à frente do palco, chamando pra briga, num
alegre desafio de improvisos. Ele próprio lança seu instrumento para o alto
quando satisfeito com alguma peripécia sua, depois de ter feito os pistos de
seu trompete vibrarem em escalas inimagináveis.
Se os ouvidos
da platéia são totalmente requisitados pela técnica faiscante de Vizzutti, os
olhares não têm outra alternativa a não ser ficarem grudados na figura
fantástica do músico. Pura veneração.
Top de
lista no seu ofício, Allan Vizzutti, no entanto, não se faz de bam-bam-bam com
os colegas que o escoltam na eletrizante aventura até o cume do jazz. Comanda
todo o espetáculo com a maciez de um gerador elétrico, bem lubrificado.
Interessante
notar que durante a execução de Night in
Tunisia, de Dizzie Gillespie, a maestria de Allen Vizzutti se mostrou
generosa com Marcos Braga, chamado a um duelo de trompetes. Num determinado
momento, quando Braga se volta para trás, olhando alguém ou alguma coisa na
orquestra, Vizzutti o puxa pelo ombro enquanto desfere acordes alucinantes. Faz
Marcos Braga voltar-se para a frente, como quem diz: “Mantenha o foco, my
friend”.
Araken (Yamaha Musical), maestro Edison, Rafael Dias, Allen Vizzutti, Leandro Lima, Eliezer e Roberto Sales |
No
corredor de saída, trocando impressões com companheiros de trabalho, o
trompetista Walmir Gil comenta: “Não sei do que é feita a boca do Allen
Vizzutti, mas de carne não deve ser”, brinca.
O
público ovacionou em pé a hipnótica apresentação de Allen Vizzutti. Devíamos
ter aplaudido ajoelhados.
Louvável
pela iniciativa de criar o primeiro evento do Brasil voltado para o trompete
popular, a organização todavia cometeu, ao menos na noite de ontem que a
reportagem acompanhou, um pecado capital. Não havia no fundo do palco as
logomarcas do patrocinador e da instituição que está acolhendo o festival.
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